A Lógica ou a Arte de Pensar
Antoine Arnauld & Pierre NicoleA Lógica de Port-Royal foi um dos livros mais influentes de lógica filosófica -para o bem e para o mal – da época moderna, não só no seu tempo como nos séculos seguintes, apesar – e talvez por causa – das suas idiossincrasias, visto que não trata apenas de questões tradicionais de lógica, mas também de outros assuntos, que vão da epistemologia à moral, passando pela metafísica e pela retórica. Afirmando-se como um manual de rutura contra a tradição aristotélico-escolástica (no que esta tinha de formalista, de abstrato e de especulativo) mas também contra a conceção ramista da dialética, ela foi, em vez disso, iluminada pelos princípios da nova filosofia cartesiana e, sobretudo, pelo augustinismo dos seus autores jansenistas. A Lógica de Port-Royal não deixou de tratar os temas tradicionais da lógica, dos termos, da lógica proposicional e da silogística – nas primeiras três partes dedicadas a três operações do espírito: a de conceber [concevoir] a de julgar [juger] e a de raciocinar [raisonner] – , mas, num movimento que havia já começado com as lógicas renascentistas, acrescentou, para além daquelas, uma quarta parte sobre o método, ou seja, uma parte dedicada à operação mental de ordenar [ordonner], e, por isso, mais vocacionada para questões epistemológicas, como a possibilidade do conhecimento, a luta contra o ceticismo pirronista (não o metódico), a crença nos factos, sem deixar de dar o devido tratamento aos aspetos propriamente metodológicos, relativos ao momento heurístico da descoberta e à clara – geométrica e demonstrativa – exposição do conhecimento adquirido. O sucesso pedagógico e a tonalidade moderna desta Lógica – já que nela se apresentam inovações importantes como, por exemplo, a distinção entre extensão e compreensão dos termos – fizeram-na, por isso, merecer um lugar incontornável em muitas das histórias tradicionais da lógica.